Salomão - A Pobreza duma Vida Com Riquezas (nota sobre Eclesiastes)
03/11/2017 15:27
Salomão começou a reinar com a idade de 20 anos. Obediente às orientações de seu pai, seguiu inicialmente os caminhos do Senhor, e por isso recebeu de Deus o presente da sabedoria (I Rs 3.3-28). Assim, Salomão começou seu reinado julgando seu povo com a luz divina. Salomão construiu um império económico invejável (IRs10).
Salomão, quando começou a reinar, pediu a Deus sabedoria para servir ao povo que liderava com justiça e verdade. Contudo, sua atuação política e seus conchavos sociais o levaram a um afastamento de Deus e dos ideais que antes sustentava. Em Eclesiastes 2.1-11 encontramos um ideal alterado. Vemos um homem a serviço de si mesmo. Alguém somente preocupado com seu nome, com seus feitos, com suas obras. Perde-se a conta de quantas vezes aparecem no texto as expressões: “meu”, “minha”, e os verbos na primeira pessoa do singular, em alusão ao “eu”.
Uma outra realidade da vida de Salomão, no início de seu reinado, era a preocupação com a justiça social, com a verdade dos fatos, com uma política voltada para o bem-estar do povo, com a decência. Ideais nobres, porém frágeis em sua vida que, ao desviar-se de Deus, modifica-os terrivelmente.
Outra realidade descrita no reinado iniciante de Salomão, era o prazer que tinha em ser instrumento de Deus para o governo do povo. Uma vez que se perde isto na vida, o homem anda desesperadamente à procura de algo que possa substituir esta realidade. Eclesiastes apresenta um Salomão boémio, desvairado, inveterado, ébrio, alguém que forja inúmeras alternativas de prazer, para trazer gozo à sua alma. Veja a descrição do texto: “Amontoei para mim prata e ouro… provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres”(v.8); e ainda: “Disse comigo: Vamos! eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade…” (v. 1); “resolvi no meu coração dar-me ao vinho…” (V.3).
Não é costume nosso escrevermos sobre personagens do Velho Testamento, mas no caso de Salomão decidimos abrir uma exceção devido à atualidade da mensagem de sua vida para a nossa geração.
Introdução - A pobreza das riquezas

As riquezas têm sido o alvo de vida de muita gente. Vivendo sob um sistema económico capitalista e num contexto cultural e social plenamente consumista, a obtenção de riquezas tem-se traduzido no alvo de vida e realização de muitas pessoas. Muitos pensam que ao atingir uma certa independência financeira, ao montar seu “império” económico, a felicidade, a satisfação e o sentido da vida vão fluir interiormente, trazendo paz ao coração conturbado. É o pensamento de que quanto mais se tem (bens e riquezas) mais se é algo na vida. Assim sendo, não importa a maneira como se chega a possuir; o importante é possuir. Escusado será dizer que pensar assim leva o homem a entrar numa espiral do tipo “quanto mais tenho, mais quero”, nunca encontrando satisfação, antes pelo contrário, o que se encontra é uma escravização material. Vemos o aumento da violência, dos assaltos, sequestros, roubos, extorsões, golpes, negociatas, trapaças, sonegações etc., tudo isso, geralmente, em busca de riquezas. O pior de tudo é que estas pessoas nunca se satisfazem com o que conseguem acumular.
É a pobreza de uma vida com riquezas. Vejamos como a história de Salomão nos mostra como uma vida cheia de riquezas não é necessáriamente uma vida plena e feliz, trazendo sim, a médio prazo, apenas tristeza e frustração.
Quem foi Salomão?
Salomão foi um rei de Israel, filho de David com Bate-Seba. Ele foi o terceiro rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos (por volta de 1000 a.C.). Salomão teve tudo o que qualquer humano materialista sonha obter neste mundo: riqueza, fama, domínio, poder, sabedoria, etc. Mas ainda assim, como podemos ler no livro de Eclesiastes em que ele mesmo, já em sua velhice escreve as conclusões de sua vida, constatamos uma tremenda frustração obtida pelos prazeres materiais e até um sentimento de fracasso pessoal. (Sobre o livro de Eclesiastes, ver nota no final do artigo)
A vida de Salomão
1. AMBIENTE HISTÓRICO

Salomão começou a reinar com a idade de 20 anos. Obediente às orientações de seu pai, seguiu inicialmente os caminhos do Senhor, e por isso recebeu de Deus o presente da sabedoria (I Rs 3.3-28). Assim, Salomão começou seu reinado julgando seu povo com a luz divina. Salomão construiu um império económico invejável (IRs10).
Contudo, as suas diversas alianças com os povos vizinhos o levaram a inúmeros casamentos, o que acabou prejudicando o seu reinado. Ele começou a importar os costumes religiosos das suas mil mulheres (I Rs 11.1-8), e seu coração se deixou seduzir pelos cultos pagãos. Apesar de toda pompa e riqueza, Salomão viveu dias de profunda pobreza. Seu coração apartou-se do Senhor, ele passou a explorar terrivelmente o povo e a vida se tornou (segundo ele mesmo) uma enorme vaidade, algo sem sentido, como se lê em Eclesiastes: “correr atrás do vento” (v. 11). Salomão: a pobreza de uma vida cheia de riquezas. Tal condição de vida pode ser assim caracterizada:
2. VIDA CENTRADA NA AUTO-PROMOÇÃO
Salomão, quando começou a reinar, pediu a Deus sabedoria para servir ao povo que liderava com justiça e verdade. Contudo, sua atuação política e seus conchavos sociais o levaram a um afastamento de Deus e dos ideais que antes sustentava. Em Eclesiastes 2.1-11 encontramos um ideal alterado. Vemos um homem a serviço de si mesmo. Alguém somente preocupado com seu nome, com seus feitos, com suas obras. Perde-se a conta de quantas vezes aparecem no texto as expressões: “meu”, “minha”, e os verbos na primeira pessoa do singular, em alusão ao “eu”.
A pobreza de uma vida cheia de riquezas é marcada por uma visão absolutizada de si mesmo, onde descarta-se o semelhante e ignora-se Deus, onde a expressão “serviço” deixa de existir no dicionário da vida, a não ser se for para ostentar e evidenciar seu próprio nome. Hoje essa postura de Salomão tem tomado conta da vida de muita gente. É a vida egocentralizada, onde “não se move uma palha” pelas necessidades do semelhante e do necessitado.
3. VIDA PREOCUPADA COM FUTILIDADES

Uma outra realidade da vida de Salomão, no início de seu reinado, era a preocupação com a justiça social, com a verdade dos fatos, com uma política voltada para o bem-estar do povo, com a decência. Ideais nobres, porém frágeis em sua vida que, ao desviar-se de Deus, modifica-os terrivelmente.
Em Eclesiastes vemos a tremenda preocupação de Salomão em fazer alguma coisa. Ele procurava satisfação e paz de consciência em suas obras. Mas estas obras não lhe conferiram nada. Diz o texto: “Empreendi grandes obras, edifiquei para mim casas, plantei vinhas, fiz jardins, pomares. Fiz para mim açudes…”(vv.4-6). Mas nada disso preencheu os seus anseios.
A preocupação de uma vida marcada pela pobreza, ainda que cheia de riquezas materiais é evidenciada pela consolidação das futilidades. Para muitas pessoas a vida se resume apenas em férias no exterior, gastos astronômicos com carros caríssimos, mansões, praias particulares, banquetes em restaurantes requintadíssimos, grifes… Para muita gente, isto é vida. Que pobreza interior! Enquanto isso, milhares de pessoas sofrem e estão sujeitas a grande pobreza e injustiça...As reais necessidades humanas são desprezadas, enquanto se dá grande valor às maiores futilidades.
4. BUSCA DO PRAZER NA VIDA VAZIA
Outra realidade descrita no reinado iniciante de Salomão, era o prazer que tinha em ser instrumento de Deus para o governo do povo. Uma vez que se perde isto na vida, o homem anda desesperadamente à procura de algo que possa substituir esta realidade. Eclesiastes apresenta um Salomão boémio, desvairado, inveterado, ébrio, alguém que forja inúmeras alternativas de prazer, para trazer gozo à sua alma. Veja a descrição do texto: “Amontoei para mim prata e ouro… provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres”(v.8); e ainda: “Disse comigo: Vamos! eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade…” (v. 1); “resolvi no meu coração dar-me ao vinho…” (V.3).
Veja a luta deste homem para tentar superar a pobreza de sua alma. A tristeza de uma vida sem ideal divino é desfalecida. Uma vida sem Deus torna-se um deserto árido, seco e sem verdor. Não pode haver prazer, nem gozo contínuo. E o homem se torna cativo, escravo de paliativos do prazer.
É desta forma que se explicam os inúmeros casos de depressão, suicídio por “overdose” (no meio elitizado principalmente), os pais de família caídos nas sarjetas, embriagados, o crescimento da prostituição, dos bordéis e motéis que incentivam a promiscuidade sexual como alternativa de prazer. As jovens que se entregam sem pudor às relações sexuais ilícitas e buscam em seguida o aborto para solucionar um problema criado pelo prazer desenfreado. É a Síndrome de Lúcifer: O homem totalizando o prazer na vida vazia e sendo escravizado pela sua necessidade de prazer sem Deus.
E depois de tudo...

Entretanto, em meio às desilusões da pobreza de uma vida com riquezas, Salomão no fim de sua vida chega à mais surpreendente, feliz e sábia conclusão capaz de revestir de sentido a existência humana, tornando-a uma experiência profundamente rica. Ele conclui: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos, porque isto é dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”(Ec 12.13-14).
Conclusão
