O Administrador astuto – Um aviso contra a desonestidade e a ganância
22/05/2015 16:00
“Dizia Jesus também aos seus discípulos:
- Havia certo homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado de estar a esbanjar os seus bens.
Chamou-o então e lhe disse:
- Que é isso que me têm dito de ti? Apresenta-me contas porque já não podes mais ser meu administrador. Disse o administrador a si mesmo:
- Que hei-de fazer, já que o meu senhor me está a despedir? Para cavar, não tenho forças, para mendigar, tenho vergonha...
Já sei o que vou fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego.
E chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro:
- Quanto deves ao meu patrão?
Respondeu ele:
- Cem potes de azeite. Disse-lhe então:
- Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta. Perguntou depois a outro:
- E tu, quanto deves? Respondeu ele: -Cem tonéis de trigo. E disse-lhe: -Toma a tua conta e escreve oitenta.
E o patrão elogiou o administrador desonesto; porque os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz.
Eu porém vos digo:
- Ganhem amigos por meio das riquezas deste mundo ímpio; para que quando estas faltarem, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito.
Assim se não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem vos confiará as verdadeiras riquezas? E se não forem fiéis naquilo que é dos outros, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque ou há-de odiar a um e amar ao outro, ou há-de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
Lucas 16 1-13
Abordaremos uma parábola de interpretação polémica devido à análise de muitos críticos que erradamente tentam interpretá-la de maneira a ver algum incentivo de Jesus à “esperteza” nos negócios. Na verdade, quando devidamente analisada, esta parábola nos dá uma bela e profunda lição de como proceder na nossa vida material como cristãos e ainda como nossas escolhas nesse campo poderão ter consequências espirituais.
Resumindo a história, um administrador é apanhado e acusado justamente por seu patrão de sua má gestão. O administrador não estando disposto a passar por privações ou vergonhas, decide com astucia e sagacidade resolver o problema ainda que para isso tenha que prejudicar o seu patrão.
E antes de mais convém esclarecer que quando Jesus afirma:
“E o patrão elogiou o administrador desonesto; porque os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz.”
Não é Jesus que elogia a má conduta e a corrupção do Administrador, quem elogiou foi o patrão (apesar de prejudicado), isto muito provavelmente devido à sagacidade e astúcia com que o administrador resolveu o problema. No entanto também não é a sagacidade do administrador que é alvo de crítica por parte de Jesus.
Jesus afirma que os “filhos deste mundo” (incrédulos e/ou pagãos materialistas) são mais habilidosos, sagazes e diligentes de forma a prevenirem o seu futuro que os filhos da luz, ou seja nós que buscamos a Deus. E isso leva-nos à primeira lição a aprender:
1-A sagacidade dos filhos deste mundo vs. a apatia dos filhos da luz
A Parábola mostra muito bem que os incrédulos em sua maioria são capazes de tomar qualquer iniciativa para promover os seus interesses próprios, a preocupação são os bens materiais e não os celestiais. A atitude do administrador não é exemplo para ninguém, pois na ameaça do seu senhor, resolveu prejudicá-lo nas contas de pagamento dos devedores para que no infortúnio e desespero pudesse encontrar alguém para recorrer.
O modo como se portou o administrador infiel, quando soube que seria prejudicado seu futuro, foi, indubitavelmente, hábil e sagaz. O diminuir partes das contas do que devia ao seu senhor, era um ato de má-fé, mas sem dúvida, com ele adquiriu muitos “amigos” da mesma laia. Pervertido como era, não descurou o futuro. Desonestas como eram as providências que tomou, não deixava contudo, o mau servidor de atender às suas próprias necessidades. Não cruzou os braços, nem deixou que a pobreza fechasse as portas de sua casa, porém meditou, raciocinou, fez seus cálculos e pô-los em execução, sem receio algum.
E essa sagacidade não é reprovada por Jesus, o que é reprovado é a conduta corrupta pois classifica o mordomo como “filho deste mundo” que mais à frente na parábola classifica como ímpio.
Assim o aviso para nós cristãos é claro:
Além de dizer que nem sempre os filhos da luz são também sagazes a pensar em seu futuro celestial tomando atitudes não recomendáveis em suas vidas, Jesus nos diz ainda que não devemos ser passivos no nosso trabalho para o Senhor. Se nos dizemos cristãos devemos também ser sagazes e espertos em nosso trabalho procurando de todas as formas licitas agradar a Deus sem o defraudar.
E agradar a Deus significa ser justos, corretos, honestos e divulgadores da verdade, conseguindo pelo nosso exemplo o maior número de almas arrependidas para que sejam salvas das garras deste mundo corrupto e desonesto que apenas leva à morte física e espiritual.
É um contraste surpreendente que encontramos entre o proceder do administrador infiel em referência aos interesses temporais e a maior parte dos homens a respeito das questões espirituais! É sob este ponto de vista, unicamente, que o administrador infiel nos dá exemplo que devemos imitar.
Mas infelizmente é a pura realidade quando Jesus afirma que os cristãos são muitas vezes passivos nesta luta contra as trevas, sendo urgente o seu mudar de atitude.
Sob este aspecto, a parábola é altamente instrutiva. A solicitude que os homens do mundo manifestam pelos interesses dessa vida, deverá provocar vergonha aos cristãos por sua frieza muitas vezes manifestada para com as coisas eternas, sendo ainda de relembrar que estamos travando uma guerra espiritual contra as forças das trevas e para que os ímpios tenham sucesso, basta que os justos nada façam!
2-O destino dos corruptos
“Ganhem amigos por meio das riquezas deste mundo ímpio; para que quando estas faltarem, eles vos recebam nas moradas eternas.”
Aqui temos um claro aviso aos desonestos. Jesus alerta que o destino destes é eterno e a sua morada será entre os outros desonestos, um triste futuro os espera...
Este é um claro aviso contra a corrupção e suas consequências eternas longe da luz e de Deus!
3- Deus vs. Riquezas
"Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito.
Assim se não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem vos confiará as verdadeiras riquezas?
E se não forem fiéis naquilo que é dos outros, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque ou há-de odiar a um e amar ao outro, ou há-de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
E para terminar Jesus ainda nos avisa que temos que escolher se pretendemos servir a Deus ou ao dinheiro, pois ambos são incompatíveis.
Obviamente que precisamos de dinheiro para sobreviver neste mundo, mas devemos ser fieis, corretos e honestos com tudo o que Deus põe à nossa disposição e nos dá na terra, se o fizermos Ele nos dará muitíssimo mais para que continuemos a aplicar e distribuir.
Mas quem serve primeiro ao dinheiro e às riquezas colocando estas como prioridade não tem Deus como o Centro da sua vida e logo não é digno da sua confiança.
Conclusão
A má-fé nos negócios é desgraçadamente, muito comum em nossos dias. A honradez nos contratos é coisa rara. Em transações comerciais muitos praticam atos que a Bíblia condena. Milhares de pessoas há que, para depressa ficarem ricas, cometem faltas que ofendem a equidade. A astúcia, a destreza em comprar, a habilidade e esperteza em vender e realizar negócios de toda natureza, fazem passar despercebidas coisas que se não deveriam permitir. A classe a que pertencia o administrador infiel é numerosa e muitos que se dizem cristãos estão infelizmente nela incluídos.
Apesar da astucia e diligência dos incrédulos materialistas não ser alvo de crítica quando constatando com a que muitos “filhos da luz” apresentam, Jesus quer que não nos esqueçamos de que o modo como o homem procede em relação ao “muito pouco”, dará uma prova de sua índole e que a injustiça “no muito pouco” é grave sintoma do mau estado em que se encontra o coração. Sem dúvida, não nos dá a entender, nem por sombra, que a honradez em questões pecuniárias pode tornar justas as nossas almas ou purificá-las dos nossos pecados, porém, ensina-nos, clara e positivamente, que a má-fé nas transações é sinal de que o coração não é reto aos olhos de Deus e as consequências eternas.
Finalmente, podemos dizer ao leitor que três são, a nosso ver, as lições contidas nesta parábola:
• É prudente estarmos preparados para o futuro e sermos diligentes em nossa missão.
• É importante fazer bom uso do dinheiro.
• Temos de ser fiéis, mesmo nas coisas menores.
Não nos esqueçamos disto: sempre que fizermos aos outros, aquilo que não desejamos que nos façam, podemos estar certos de que procedemos mal aos olhos de Cristo.
Fontes:
Resumo da Parábola do Mordomo infiel
https://www.abiblia.org/ver.php?id=3718#.VV29IPlViko
Como se explica “granjear amigos com as riquezas da injustiça’?
https://www.cacp.org.br/como-se-explica-granjear-amigos-com-as-riquezas-da-injustica/