Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus
Ainda outro disse: "Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família".
Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus".
Lucas 9:59-62
Todos os que querem ver no puro cristianismo uma religião fofinha e facilitista serão com certeza frustrados pelo pragmatismo da escritura. É certo que Deus é amor (1 João 4:7-8), e na escritura encontramos a maior definição do que é o verdadeiro amor no sacrifício vicário de Cristo, no entanto a realidade implica que muitas vezes o discurso do Senhor tenha que ser de certa forma duro e pragmático. Esta é mais uma passagem em que vemos essa realidade exposta.
Despedir-se dos pais
O que neste artigo pretendemos é abordar mais a questão do “pegar no arado e olhar para trás”, no entanto convém enquadrar a passagem. O contexto da passagem e dos versículos anteriores é a chamada do Mestre, e as desculpas que alguns dão para de certa forma adiar esse mesmo chamado. Aqui especificamente vemos um jovem afirmando que seguirá Jesus mas pede um tempo extra para se despedir da família, ao que Jesus replica com algo que reflete a urgência do chamado.
É certo que à primeira vista o pedido até pode parecer razoável, mas será que é mesmo?
No Velho Testamento vemos o profeta Eliseu a pedir a Elias um tempo para se despedir dos seus pais antes de iniciar o seu ministério, ao que este acedeu (1 Reis 19:20). Ora o nosso Deus não muda, pelo que, com certeza, algo aqui difere nas verdadeiras motivações.
Por a mão no arado e olhar para trás
Dito isto, vamos então às palavras “duras” do Senhor. Aqui parece então óbvio que Jesus não atende a um pedido face à urgência da missão do evangelista, vamos analisar:
O que significa arar a terra?
Jesus usa uma imagem do mundo da agricultura para transmitir o que Ele deseja de quem quer imitá-Lo. A imagem consiste na atividade de arar a terra. Naquele tempo, não existia trator, então a terra era arada por animais. O arado, instrumento de lavoura destinado a preparar a terra, era feito de um galho de árvore em forma de forquilha preso por um jugo numa extremidade e por uma relha segura a uma chapa de ferro na outra. Era puxado por uma junta de vacas ou bois ou por uma parelha de jumentos, guiados pelo lavrador. Quem estava conduzindo o animal não podia se distrair, mas devia prestar atenção nos animais e no esforço que fazia com as próprias mãos para que o arado seguisse em linha reta. Olhar para trás significava criar um valo torto, desviar da direção justa e até provocar a queda.
O que o Senhor queria ensinar
Quando o Senhor Jesus cita esse exemplo, Ele de imediato imagina alguém arando a terra e olhando para trás, mas sem largar o arado. Ou seja, é uma pessoa que ama a dois senhores, algo intolerável na realidade da escritura (Mateus 6:24).
Por essa ótica, compreendemos que esse conselho é direcionado aos que servem o Senhor, mas o fazem com desatenção, desprezando a sua real importância. O arado, que veio à sua memória na época, era o produto artesanal puxado por bois, os quais eram guiados por homens atentos, focados no ponto de chegada, mantendo a vala ou rego sempre em linha contínua a fim de lançar a semente e manter a plantação alinhada.
A mensagem de Cristo não consiste no fato de que alguém que quer seguir a vida cristã não possa mais falar com os velhos amigos, participar de atividades seculares ou, como diz o ditado, “fazer coisas do mundo”. Jesus, por outro lado, quer ilustrar que se uma pessoa quer se tornar cristã, não precisa esperar nem criar uma situação particular, mas deve começar imediatamente e com pouco até nas atividades e relacionamentos mundanos. E quando começar deve seguir adiante, sem olhar para trás. (Obviamente, ao decidirmos pela causa de Cristo, algumas coisas ficarão para trás e não farão mais parte de nós, falamos obviamente das não pecaminosas.)
Viver e pregar o evangelho é sem sombra de dúvidas a tarefa mais importante e urgente que podemos abraçar nesta vida, dela depende o nosso futuro na eternidade (a nossa salvação) e também daqueles a quem pregamos, ou deixamos de pregar.
Não podemos esquecer que estamos numa guerra contra as trevas pela salvação, pelo que as desculpas mundanas, sejam elas quais forem, de forma a adiar aquilo a que fomos chamados, não são minimamente aceitáveis.
Desculpas
Trabalho, família, fraqueza, falta de motivação, vergonha, não gostar de se incomodar com os outros, etc, são algumas desculpas vulgarmente ouvidas, mas sejam estas quais forem, todas são inaceitáveis para um verdadeiro crente face à chamada e à missão que a todo o crente é conferida.
É certo que muitos se entusiasmam a ouvir a palavra e querem seguir o cristianismo, mas vindo as canseiras, dificuldades e até tribulações da vida cristã logo desmotivam e abandonam o caminho. Esta realidade é exposta pelo próprio Senhor Jesus na parábola do semeador, no entanto o Senhor não desculpabiliza estas pessoas, antes pelo contrário, afinal todos estamos sujeitos as vicissitudes desta vida e importa ter fé naquele em quem cremos.
Não se é digno do Reino
A responsabilização do individuo “crente” é de tal ordem que o Senhor é bem enfático nas palavras:
"Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus".
Ser apto ou digno não significa ser perfeito mas sim ser trabalhador pela causa. Não se enganem amigos, a salvação até pode ser conseguida simplesmente crendo no Senhor, afinal Ele é bom, mas daí a ser DIGNO DO REINO, vai uma grande distância e caso iniciemos o trabalho e continuamente olharmos para trás - para o mundo - podemos vir a ser engolidos por ele.
Não se é realmente apto caso levemos avante um trabalho para o Senhor olhando para trás e logo apresentarmos um trabalho torto e mal feito, sem o devido compromisso com o Mestre.
Conclusão
Aquele que quer seguir a Cristo, mas que vacila, adia ou coloca vários empecilhos é a pessoa que quer lançar mão do arado, mas quer também olhar para trás. Ou ainda, pode significar uma pessoa que está com a mão no arado, arando a terra, mas o faz com desatenção, atento às coisas do mundo.
Muitos continuam no evangelho e apesar da sensação de bem-estar proporcionada pelas “experiências espirituais”, acabam acomodando-se e relaxando na fé, desviando sua principal atenção da dura verdade e deixando de focar na vida e guerra espiritual, dando abertura ao inimigo e passando a ter saudade do passado, desejos pelo pecado e demais ilusões deste mundo.
Jesus ensinou que aqueles que querem entrar no Reino e dele participar têm que ser persistentes, ousados e aptos para lutar, porque as coisas não são fáceis. “Porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que o encontrem” (Mateus 7:14).
Há muitas tribulações e aflições. O inimigo é de fato muito forte, mas, se tivermos bom ânimo, venceremos assim como Jesus venceu (João 16:33).
Quando decidimos pela causa de Cristo, devemos estar atentos ao nosso trabalho de arar a terra. Não devemos nos desviar do caminho. Não devemos olhar para trás. Precisamos focar e ser persistentes, a despeito de quaisquer coisas que possam nos advir. Se quisermos ser dignos do Reino de Deus, depois de aceito o encargo de “arar a terra”, não devemos olhar para trás, LEMBRAI-VOS DA MULHER DE LÓ...
“Seguir Cristo não é uma prática desleixada ou ocasional, mas um compromisso contínuo e um modo de vida que se aplica a todos os momentos e em todos os lugares”.
Dallin H. Oaks
Fontes:
O que significa olhar para trás depois de lançar mão do arado?
maisfe.org/para-refletir/o-que-significa-olhar-para-tras-depois-de-lancar-mao-do-arado/