A oferta da viúva pobre
04/07/2017 18:25
Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições, e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias.
Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições, e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias.
Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor.
Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: "Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros.
Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".
Marcos 12:41-44
A história relatada nesta passagem mostra-nos Jesus observando a multidão fazendo suas ofertas no templo de Deus. Ele então chama a atenção aos seus discípulos sobre a doação duma viúva pobre, que deposita tudo o que possui em comparação com os ricos que ofertavam muito, mas apenas do que lhes sobrava .
O óbvio
Jesus admira a oferta da viúva pois esta dando o que lhe fazia falta mostra ter mais confiança em Deus do que no dinheiro, além de que na Bíblia o conceito de oferta está ligado à ideia de algum sacrifício. Os ricos por sua vez davam apenas o que não lhes fazia falta. Jesus não censura essas ofertas, mas valoriza mais a da viúva e isso deve ser evidente para nós pois se a oferta da viúva demonstra fé e sacrifício, as ofertas dos ricos, espiritualmente falando, pouco ou nada significavam.
Não devemos achar que ofertar a Deus o que não significa nada ou que vale pouco para nós, tem um grande valor espiritual. Se as nossas contribuições não nos expõem a algum custo, ainda não atingimos o padrão ensinado por Jesus.
A viúva e a verdadeira igreja
Mas como sempre esta história é mais do que aparenta e para entender até onde ela quer chegar devemos fazer uso da simbologia bíblica. Mas antes de mais convém contextualizar dizendo que esta passagem se segue no seguimento de uma critica dura de Jesus aos fariseus, os ultra-religiosos judeus, mostrando a sua hipocrisia religiosa, e esta passagem vem no fundo complementar o seu discurso.
Conforme sabemos, "mulher" na Bíblia é usada várias vezes com o significado de igreja. No contexto da passagem em análise uma mulher viúva significa então uma igreja que perdeu o seu marido logo seria a verdadeira igreja cristã pois está (ainda que temporariamente), sem Jesus (o marido) neste mundo. Assim baseados nesta analogia é possível fazer uma reflexão e análise às chamadas igrejas “cristãs” atuais e ver até que ponto se aproximam dos parâmetros valorizados por Jesus.
O interessante é que paradoxalmente, este texto é muito explorado nas igrejas a fim de se incentivar as contribuições e dízimos e certamente que a maior parte dos nossos leitores já ouviu muitas pregações sobre a oferta da viúva pobre como um incentivo à contribuição, como uma exortação a procedermos como esta pobre viúva que deu tudo o que possuía, ficando assim como um exemplo de contribuição que Jesus apresentou. Mas quando bem analisado este texto serve é para expor a ganância da igreja atual e como ela está em total desacordo com o Evangelho. No início da era da igreja cristã as contribuições dadas aos apóstolos eram destinadas às viúvas, órfãos e necessitados, não para benefício pessoal como é feito hoje por uma vasta maioria das instituições religiosas.
A absurda fortuna de muitos famosos pastores evangélicos
Atualmente vemos igrejas “ricas” com patrimónios vastíssimos e com seus “pastores” milionários a cobrar dízimos, coletas e tornando a fé um negócio com as desculpas de seus supostos mecenatos e supostas obras sociais. Mas na verdade estas obras "caridosas" são comparáveis às ofertas dos ricos pouco valorizadas por Jesus. Estas “obras” das igrejas são apenas efetuadas depois de enriquecerem as estruturas da mesma e feitas com o “que lhes sobrava” para justificar as ofertas obtidas, pelo que valem o que valem como sacrifício caridoso.
Também vemos igrejas como a católica se afirmar como maior instituição de caridade do mundo, mas face às suas riquezas e património será que espiritualmente tal caridade tem algum valor para Deus? Por exemplo o Banco do Vaticano é listado como uma instituição de caridade, mas já esteve envolvido em grandes escândalos financeiros pelo que vemos que por trás da fachada de caridade se escondem outros obscuros interesses.
Assim o que daqui depreendemos é que todos devemos ter uma análise critica face às igrejas que frequentamos estando atentos a estes sinais pois a “viúva” - a verdadeira igreja de Jesus, não deve ser nenhuma instituição milionária e com fins lucrativos, mas sim com objetivos de ajuda ao necessitado, e seja essa ajuda grande ou pequena ela será sempre de valorizar.
Que dirá Jesus das nossas igrejas, na sua segunda vinda?
Que dirá Ele da cobrança do dízimo e ofertas sacrificiais a muitas outras viúvas pobres dos nossos dias? Quais as prioridades das verbas das nossas igrejas? Será a ajuda aos pobres e necessitados? Ou o sustento pastoral e construção de edifícios religiosos?
Não nos compete responder. Mas, será que iremos voltar a ouvir coisa semelhante à afirmação do Mestre:
“Guardai-vos dos escribas (lideres religiosos) que gostam de circular de toga, de ser saudados nas praças públicas, e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes, mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa.”
Marcos 12:38/40
E quanto a nós individualmente?
Mas também a nível pessoal esta história nos deve alertar que as nossas "boas ações" são sempre relativas. Jesus nos mostra que não é a quantidade daquilo que se dá que lhe é agradável, mas é aquilo que está no coração que lhe interessa. Interessa ainda dizer que muitos fazem suas ofertas para serem vistos e valorizados pelos homens, mas esses, conforme Jesus nos diz, já tiveram a sua recompensa:
E outros acreditando em teologias da prosperidade fazem ofertas esperando um outro tanto “abençoado” por Deus, mas com Deus não se barganha e nossas ofertas não devem ser motivadas por ganância mas sim por amor.
Ann Spangler e Jean Syswerda no livro "Elas" nos dizem que ..."A história da viúva e de suas duas moedas de cobre nos lembra de que o reino de Deus funciona sobre princípios completamente diferentes daqueles do reino deste mundo. Na economia divina, o tamanho da oferta não é importante; o que importa é o tamanho do coração do doador."
Fontes:
Oferta da viúva pobre (CC)
https://www.estudos-biblicos.net/viuva-pobre.html
A Oferta da Viúva Pobre
https://estudos.gospelmais.com.br/a-oferta-da-viuva-pobre.html