A indignação de jesus – Purificação do templo

20/11/2015 12:18
                              
Nas escrituras é relatado por duas vezes (Sinóticos e João) um comportamento imprevisível de Jesus (o Príncipe da Paz), a sua indignação. Muitos críticos tentam apontar falhas ao caráter de nosso Mestre devido a tal atitude, mas será que tais críticas são legítimas? Não terá um Deus justo o direito a indignar-se diante da injustiça?
 

Uma ou duas purificações?

Antes de fazer a análise ao sucedido devo dizer que sou da opinião que Jesus purificou o templo por duas vezes e não apenas por uma. A primeira é efectuada no princípio do seu ministério e relatada no Evangelho de João:
Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém.
No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro.
Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou as suas mesas.
Aos que vendiam pombas disse: "Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado! "
Seus discípulos lembraram-se que está escrito: "O zelo pela tua casa me consumirá".
João 2:13-17
 
A segunda no fim, mesmo antes da sua prisão e morte:
Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas,
e lhes disse: "Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’".
Mateus 21:12,13
 
Sustentando a tese das duas purificações estão os fatos de: Em primeiro lugar se seguirmos a linha cronológica dos evangelhos é o que faz mais sentido e em segundo porque se denota nas palavras usadas por Jesus um aumento no tom das críticas da primeira ocasião (“Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado! ") para a segunda (“…vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’"), revelando uma maior indignação por ser a segunda e não a primeira vez que Jesus corrige a falta de respeito. Com certeza também na segunda vez o impacto sobre as autoridades foi maior pois Jesus já era um profeta bem conhecido. Duas purificações mostram também coerência de Jesus mediante situações semelhantes.
 

A indignação de Jesus é legítima?

Dito isto e independentemente de ter sido 1 ou 2 purificações vamos então analisar a indignação e até ira de Jesus.
Vemos então que Jesus quando confrontado com a prática de comércio no templo expulsou de forma firme e decisiva os que a praticavam. Será que agiu de forma violenta? Será que cometeu pecado?
Indignação significa: Sentimento de ira despertado por ação indigna; Repulsa, Aversão...
Uma definição simples da ira aponta para um furor breve, provocado por mal ou injúria que se quer repelir. Aristóteles escreveu que “qualquer um pode irar-se, isso é fácil. Mas irar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa, não é fácil”. A ira pensada pelo filósofo grego descreve perfeitamente a reação do Filho de Deus diante da profanação e corrupção na Casa de seu Pai (Jo. 2:16).
Quando Jesus chegou ao templo, encontrou cambistas e mercadores, trocando moedas, vendendo bois, ovelhas e pombos. O lugar de oração tornara-se uma toca de ladrões, onde comerciantes exploravam a religião e lucravam em nome de Deus. Ao ver esta cena, Jesus irou-se contra aquela situação: Fez um chicote de cordas e expulsou a todos, tanto homens como animais; espalhou o dinheiro, derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Ele impediu que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo e bradou:"Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’". 
É lógico que Jesus não tem nenhum sentimento de ódio, mas de ira, uma indignação que o leva a uma ação, porém, sem nenhuma sombra de pecado. Os mercadores fugiram espantados com a autoridade de Jesus. “Não houve qualquer resistência, porquanto sabiam que Ele estava certo. Objeção também não houve nenhuma, pois sentiam que ele estava apenas reformando um abuso notório, que tinha sido aviltantemente permitido por amor ao lucro”.
Esta reação de Jesus não foi um ato de fraqueza nem descontrole. Se observarmos bem, iremos perceber em cada gesto a excelência da Sua Santidade:
Lucidez: Ele não agiu impulsionado por paixão, nem por precipitação, mas bem sabia o que estava a fazer. Antes de purificar aquele local, contemplou a situação e fabricou um chicote de cordas (Jo. 2:15).
Zelo: Pela obra de Deus. Não foi fanatismo terrorista. Sua ira foi provocada pelo sacrilégio que mercadores e cambistas estavam praticando. Irou-se pelo zelo do Nome daquele que ouve as orações dos homens (Jo. 2:17).
Irou-se contra o pecado: Deus ama ao pecador, mas abomina o pecado. Nessa situação Jesus não dirigiu sua ira à pessoa de cada cambista e mercador, mas condenou as suas práticas pecaminosas: desonestidade, exploração, profanação, etc.
Não guardou mágoa nem rancor: No dia após este acontecimento, Jesus estava lá, no templo, ensinando a todos e curando cegos e coxos (Mt. 21:14, 23).
 

Conclusão

O que esse acontecimento nos diz sobre Jesus? O mesmo Cristo que ama, perdoa e salva, sente indignação contra o pecado e não toma por justo aquele que usa a fé das pessoas como fonte de lucro.
O chicote de Jesus hoje haveria de ser usado com maior frequência, pois o número de mercadores da fé multiplicou-se. E diante desse fato, precisamos aprender com Ele a nos indignar ante a exploração da sinceridade e da ignorância do povo.
 

Fontes:

A ira do Filho de Deus
https://pralexgadelha.blogspot.pt/2011/06/ira-do-filho-de-deus.html