A cura do "servo" do centurião e a homossexualidade - Parte 2 - O pedido do centurião visto por Jesus
NOTA INICIAL IMPORTANTE:
O presente artigo não pretende ser conclusivo, mas reflexivo. O caso do centurião de Cafarnaum pode ser o único registo bíblico entre Jesus e um homossexual. Episódio que mereceu menção nos Evangelhos em virtude da grande fé do militar romano.
Veja em primeiro lugar:
A cura do “servo” do centurião e a homossexualidade – Parte 1- A Harmonização de relatos
Agora que já fizemos o trabalho de harmonização entre os 2 evangelhos que falam sobre “a cura do servo do centurião”, avancemos para o entendimento mais profundo da passagem.
Antes de mais e como já referi os manuscritos originais do Novo Testamento não tinham pontuação gramatical, o correto entendimento dos mesmos deveria ser feito pelas palavras utilizadas e o contexto em que as mesmas eram inseridas.
Infelizmente este método deu alguma liberdade aos tradutores para colocarem a pontuação muitas vezes não da maneira mais correta, uma virgula mal colocada às vezes muda totalmente o contexto da passagem.
Passemos à análise:
Quando fazia a harmonização deste trecho denotei que nos manuscritos gregos do evangelho de Mateus a palavra utilizada e traduzida na grande maioria das vezes nas versões atuais para «servo» era no mínimo curiosa e levou-me a ir mais a fundo na análise ao texto.
Em Mateus (8.5-13), o comandante romano referiu-se a seu servo empregando a palavra grega “pais”. Esse é um termo bastante intrigante quanto ao seu sentido. A palavra grega "pais" tem vários significados como; servo jovem ou amante, mas neste caso, embora em um sentido pouco comum, pode ser traduzida e interpretada como um escravo jovem cujo proprietário mantém para favores sexuais. O termo pederastia (1) deriva do mesmo radical (paiderastia). As várias traduções (quanto a mim erroneamente) suprimiram as possíveis conotações sexuais do termo utilizando as expressões “meu servo”, “meu empregado”. A versão ARA (Almeida revista e atualizada) utilizou uma expressão um tanto curiosa: “meu rapaz” (v.8).
Tais relações com conotações sexuais eram bastante comuns no Império Romano e, embora condenadas pela tradição judaico-cristã, a sociedade romana as tolerava. É fato que havia um componente abusivo em tais relações (vide nota sobre homosexualidade na Roma antiga), mas este não parece ser o caso do centurião, já que Lucas acrescenta que o servo lhe era muito querido (Lucas 7.2), o que explica o esforço do comandante em buscar a ajuda de Jesus. Lucas também utilizou a palavra entimos, termo que denota, também, afetividade e intimidade.
O relato de Lucas se refere ao servo como doulos, termo mais específico que significa servo, porém sem uma conotação de escravidão. Tal aceção reforça o conceito de que não se tratava de um escravo comum.
Lucas também afirma que ele havia construído uma sinagoga (7.5), portanto o centurião era um homem rico e poderia substituir facilmente o servo a qualquer momento, bastaria comprar outro. As motivações do centurião são, antes, afetivas ou mais provavelmente, homoafetivas. O mesmo texto indica que, possivelmente, era um homem temente a Deus, porque, além de construir a sinagoga, Lucas acrescenta que ele amava a nação de Israel (7.5).
Mas existem outros indícios que nos indicam que realmente podemos estar perante um caso de homossexualidade, que diga-se de passagem era bem comum entre os romanos na altura, vejamos:
O centurião não se sentia um homem digno para se dirigir pessoalmente a Jesus e nem para que o Senhor entrasse em sua casa:
- Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu teto, mas diz uma só palavra, e o meu rapaz será curado;
Mateus 8.8
Ora se realmente a relação entre o centurião e o servo fosse de cariz homoafetivo, conhecendo o centurião a crença judaica sobre essas práticas não é de admirar que não se sentisse digno para enfrentar o próprio Messias de Israel com um pedido tão complicado.
Observemos agora a questão da pontuação numa importante frase de Mateus;
5 E, entrando Jesus em Cafarnaum, um centurião foi procurá-lo, rogando-lhe;
6 - Senhor, o meu criado está de cama, paralítico, num sofrimento horrível.
7 E Jesus lhe disse:
- “Irei eu curá-lo”?
Mateus 8.5-7
Na maior parte das traduções não temos a colocação do ponto de interrogação no final da sentença de Jesus a sublinhado, mas sim um ponto final tal como na NVI;
Jesus lhe disse:
-"Eu irei curá-lo".
Mateus 8:7 NVI
No entanto observando os trechos de Mateus e Lucas denotamos que teve de existir alguma insistência e argumentação por parte dos anciãos judeus para que Jesus se resolvesse a atender ao pedido:
3 E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo.
4 E, chegando eles junto de Jesus, suplicaram-lhe com insistência, dizendo:
- É digno de que lhe concedas isto,
5 Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos construiu a sinagoga.
Lucas 3.5
Ora Jesus que sabe tudo e todas as coisas, sabia com certeza que tipo de relacionamento existia entre o centurião e o seu “servo” e sendo Ele um Mestre (Rabino) judeu conhecedor das escrituras como ninguém, provavelmente por isso indagou os outros anciãos perguntando com alguma desconfiança, se eles achavam que realmente seria legitimo efetuar a cura.
Para quem conhece as escrituras e sabe o que as mesmas dizem sobre as práticas homossexuais, com certeza concorda que analisando devidamente a passagem de Mateus 8.7, o ponto de interrogação na frase faz muito mais sentido que o de exclamação e sem dúvida o uso dessa pontuação responde ao porquê da insistência dos anciãos, se a resposta de Jesus fosse tão perentória como:
Eu irei curá-lo!
Para quê a insistência e argumentação dos anciãos que lhe foram enviados com o pedido?
E eu não sou o único a achar que essa é a melhor forma de traduzir essa frase, algumas outras traduções também adotam essa pontuação tal como a Bíblia TEB.
Note-se que concordando neste ponto de tradução com a TEB, não significa que concorde em todos os outros
Tendo-se então decidido Jesus a ir avaliar o caso a casa do centurião, eis que este último lhe envia novamente emissários com a seguinte mensagem:
6 E foi então Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe:
-Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado.
7 E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; diz, porém, uma palavra, e o meu criado será curado.
8 Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu comando, e digo a um:
- Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faz isto, e ele o faz.
Lucas 7.6-8
E o que diz e faz Jesus a ver tamanha fé em sua pessoa e capacidade?
9 E, ouvindo isto Jesus, se admirou dele, e voltando-se, disse à multidão que o seguia:
- Digo-vos que nem ainda em Israel encontrei tamanha fé.
10 E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo doente.
Lucas 7.9-10
MORAL DA HISTÓRIA
Em primeiro lugar entendemos que quando existe a mesma história em vários evangelhos, temos obrigatoriamente que os analisar em conjunto e não isoladamente se queremos realmente entender a mensagem. Em segundo devemos consultar mais do que uma tradução e mediante o contexto da passagem escolher a que faz sentido.
E quanto à homossexualidade?
Neste ponto sensível alguns abusivamente dizem que Jesus ao curar o servo está a dar carta branca a estas práticas, no entanto se realmente Jesus questiona se deve atender ao pedido do centurião e decide pessoalmente avaliar o caso não fazendo logo a cura à distância é porque as coisas não são assim tão lineares, até porque o centurião não teve a coragem de se dirigir pessoalmente ao mestre num caso tão sensível por não se achar ele mesmo digno de tal.
As escrituras são bem claras relativamente às práticas homossexuais e sobre isso já escrevi outro artigo em que deixo a minha posição (2).
Não devemos então interpretar erroneamente nem suavizar estas práticas que nos levam a uma prisão carnal e espiritual, as boas notícias são que qualquer homossexual que queira se aproximar de Jesus e ter fé na sua palavra tem todas as condições para ser salvo.
Jesus mostra aqui que;
Mais do que o pecado aprisiona, a fé salva!
E esse é o grande ponto da passagem, para sermos salvos antes de mais temos que tomar consciência que todos nós precisamos ser salvos, cada qual com os seus pecados.
Qualquer homossexual que lê estas linhas deverá fortalecer a sua fé, se aproximar de Jesus e ele trabalhará o seu coração.
A porta da salvação de Jesus está aberta para qualquer pecador, seja qual for o pecado desde que tenhamos fé, esse é o primeiro passo, depois logo se verá.
Aos homossexuais então digo, aproximem-se de Jesus e leiam a sua palavra, tenham fé pois todos são bem vindos ao seu reino!
E aos heterossexuais digo; antes de julgar os homossexuais e termos preconceitos seja com o que for, devemos elucidá-los, encaminhá-los para Jesus e Ele fará o resto.
Ninguém está sem pecado, cada qual tem o seu problema para resolver, ajudemo-nos uns aos outros!
Um abraço
Referências:
(1) Homossexualidade na Roma Antiga
https://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_na_Roma_Antiga
(2) Homossexualidade-Uma visão cristã
https://www.nunes3373.com/news/homossexualidade-%E2%80%93-uma-vis%C3%A3o-%28verdadeiramente%29-crist%C3%A3/
Fontes:
Jesus e a Homossexualidade: O Centurião Romano
https://teologiaeinclusao.blogspot.pt/2012/10/jesus-e-homossexualidade-o-centuriao.html